segunda-feira, 30 de julho de 2012

Blog sobre o caminho francês Português

O caminho de Santiago é um dos míticos percursos da Península Ibérica. 


Muito há a dizer do caminho, desde a nível religioso, espiritual, cultural, simbólico, telúrico, até em termos de ordenamento do território, mas isso ficam para outros registos. Aqui falamos de viagens de bicla. Ainda não fiz nenhum "camino" de bicicleta, mas enquanto peregrino a pé já passaram por mim muitos viajantes em duas rodas que me deixaram inquieto.
Desde o camino francês, os caminhos portuguêses, o primitivo, o inglês e a rota da prata são muitas as ofertas cheias de história, albergues gratuitos, paisagens soberbas e, dependendo do objetivo da peregrinação, momentos de introspecção, meditação e contemplação. 



O melhor registo sobre viagens de bicicleta no camino que conheço é o bicigrino, mas hoje encontrei uma excelente réplica portuguesa, obra do "dar ao pedal" que me contactou via blog para colocar umas questões sobre a viagem a Badajoz e que merece uma leitura: 



The hungry cyclist


Categoria:  Livro
Título: The hungry cyclist
Autor: Tom Kevill-Davies


Veredicto: Tom Kevill-Davies é um dos meus heróis vivos!
Isto porquê? Porque conseguiu juntar 2 mundos que a mim são muito queridos: Viajar de bicicleta e COMER BEM!
As duas coisas não têm de estar de costas viradas! Muita gente pensa que só porque se está a viajar em autonomia ou simplesmente porque pedalar com estômago cheio é difícil, que se tem de comer mal em viagem! Nada mais errado. Eu gosto de comer simples ao almoço, mas depois vingar-me no jantar. Ou faço algo mais substancial e elaborado ou janto alguma delicatessen local.
Mas, perguntam-me vocês, o que este rapaz fez para se classificar “herói vivo” na meu parco portfolio de culto de personalidades? Foi pedalar a américa (norte, central e sul) à procura da refeição perfeita. QUE DOMÍNIO! Ele até colocou um cartaz na traseira da bicla a dizer isso.
  O plano (mal traçado) que não se veio a cumprir na integra.

Não sei se estão a imaginar o que esta mensagem fez mexer no orgulho de tantos cozinheiros e cozinheiras por essa américa fora. Cada um queria provar-lhe que a sua era a melhor refeição que ele ia encontrar! O homem é um génio. Ele fez milhares de kilómetros e conseguiu engordar! ;o)
Brincadeiras à parte, Tom escreve bem, é simples, foca-se em pequenas particularidades que para mim são interessantes, nomeadamente as relacionadas com a comida. É um gajo  pouco dado a grandes planos o que é interessante e parece saber viver o momento. Só para começar foi para NY para casa de uns amigos e contava partir de forma a não apanhar o inverno enquanto passava as rocky mountains. Ficou quase um mês na farra na cidade que não dorme e – pimba – apanhou exatamente aquilo que tentou evitar. Mas comeu uma refeição típica de Porto Rico à saída de NY, foi a umas festas em honra do Peru numa cidadezinha redneck, comeu salmão com índios nas Rocky mountains, provou os picnics de "traseira de pickup" (tailgate picnic) antes dos jogos de futebol americano e ostras do pacífico. Atravessou o mar de cortéz para se deliciar com a comida de rua do México, muito dada a cores e a órgãos internos.
hum...


...porquinho da índia!


Passou-se com a Colômbia e comeu porquinho da Índia no Peru. Meteu-se num barco e desceu o Amazonas onde comeu peixe do rio, e pela costa do Brasil abaixo onde saboreou armadillo, as delícias de Salvador e acabou com uma caipirinha nos queixos no Rio de Janeiro. Digam lá que o rapaz não sabe o que faz?
 Nota-se a barriguinha após 15.000milhas! ;o)


De volta a Londres faz tours gastronómicos num tandem, faz passeios históricos e fez uma viagem ao delta do Mekong. Vou seguindo as suas aventuras no seu site, que tem montes de receitas e fotografias espectaculares mas o seu livro é imperdível. Para devorar de uma ponta à outra! ;o)
Um abraço ao meu compadre que partilha do meu gosto pelas viagens e pela cozinha e que me emprestou este livro fantástico!






Chile to Killi

domingo, 29 de julho de 2012

Lx - Badajoz pela ecovia - dia 8


Dia 8 - Elvas - Badajoz - Lx                               Albúm do oitavo dia


Total Kms dia - 41,7 kms
Total Kms acumulados - 388 kms

€€€ 

14,20€ - camping
12,5€   - tapas
2€       - gelados 

28,7€

Passado o ritual matinal, fomos pagar o camping e tomámos o pequeno almoço com malta que tinha chegado no dia anterior. Faziam parte do grupo que vinha na nossa pégada num evento para promover a ecovia. Era um grupo enorme e heterogéneo e estes circulavam em autonomia como nós: preparados para acampar e preparar as suas próprias refeições. Falámos das várias peripécias vividas, do que mais gostámos, de outras viagens feitas, etc. etc. Seguímos em fila até ao ponto de encontro. Lá estava o resto do grupo que fez a viagem, inclusive um grupo de crianças de uma aldeia SOS, e locais (um espanhol e o clube de BTT de Elvas) que fizeram as honras da casa. 

O Paulo veio entregar o bilhete que tínhamos deixado para eles no trilho do Gameiro, o qual o Gugas decidiu devolver para que guardasse como "recuerdo".

A entrega do bilhete perdido. 

Pronto a arrancar com o grupo.


Tirámos uma foto de grupo e seguimos caminho. 

Para trás é que ele não fica!

O ritmo do grupo era sensivelmente o dobro do que costumávamos fazer e o Gugas queria mostrar que estava à altura do desafio!! Parecia tresloucado, mas cheio de ganas para acompanhar os crescidos. 

Andando em grupo a paisagem passa mais para um plano secundário e não passamos tanto tempo connosco e com as nossas conversas, mas compensamos com  diálogos diferenciados, piadas colectivas, fotos mais bem conseguidas e ajudas. Parte do percurso nem vi o Gugas, que ia destacado na frente do pelotão, perto das crianças, atarefado a mostrar o caminho que conhecia do dia anterior. 

Roda 20'' e roda 26'' à desgarrada.

Chegados à fronteira fizémos uma festa e um pouco mais à frente fomos visitar a Lusiberia...afinal é um excelente atractivo à chegada a Espanha e por outro lado seria extremamente interessante o apoio deste parque temático ao projecto ecovias!

A atravessar o Guadiana.


Adiante, acabámos o percurso na praça alta com uma foto de grupo, com um calorão impressionante. 

O grupo a posar ao sol. 

Deste lado da fronteira a influência àrabe é mais forte nos edifícios. 

Daí seguímos para o centro de Badajoz para comemorarmos com umas belas tapas. Eu e o Gugas ainda fomos tentar fazer uma cache no castelo de Badajoz, mas a zona estava em obras!!! Na impossibilidade de cachar e deixar lá uma geocoin que trazíamos desde Lx, fomos ter com oresto do grupo onde ficámos à espera da malta do BTT do Seixal que fez o percurso em modo cruzeiro!

"Cache" abortada, valeu a vista do castelo. 


Antes de seguirmos para a camioneta que nos esperava na fronteira, ainda fomos procurar os famosos caramelos ou caramillos, mas a sesta espanhola (das 14h até às 18h30m) não nos permitiu! 

O grupo entre "tapas" e "pinchos"

Tchim-tchim a tempos bem passados em cima das nossas bicicletas.

Sinalética luminosa dedicada.

A viagem de volta correu sem percalços e não tarda tínhamos feito em poucas horas o percurso que fizéramos em 7 dias de bicicleta!! Largados à frente do edifício dos serviços centrais da CMSeixal ainda tínhamos que atravessar o Tejo.  
Retirámos as bicicletas e carga da camioneta, despedimo-nos com promessas de novas voltas e seguimos em direcção à estação fluvial. Não avançámos muito pois tinha um furo na roda da frente!! Ora bolas...a 12kms do destino e com o barco a sair é que tinha de acontecer isto!! Ainda por cima carregava a bicla do Gugas pois ele acabou por seguir com os meus pais a ver se ainda conseguia ir ter ao acampamento final dos escuteiros. 
Decidi encher o pneu e tentar a minha sorte. Acertei, era um furo lento e o ar que tinha na câmara de ar ainda permitiu chegar a casa onde tinha a família toda à minha espera (incluindo o Gugas que estava cheio de saudade da mana e do seu quarto!).


Que dor!

Xtracycle a carregar a bicla e a carga do Gugas.

À chegada a casa...com 388kms no conta kms.


Depois dos abracinhos e beijinhos de boas-vindas perguntei ao Gugas qual seria o próximo destino: "Quero dar a volta ao mundo, pai"  - foi a resposta.



dia7 :: início             

Lx - Badajoz pela ecovia1 - dia 7

Dia 7 - Elvas - Badajoz - Elvas                               Albúm do sétimo dia


Total Kms dia - 34,2 kms
Total Kms acumulados - 346,3 kms

€€€ 

3,5€ - Gelados
2€    - Bebidas 

5,5€

Acordámos, tomámos o pequeno almoço e seguimos para o centro. Passámos umas quantas rotundas, pelas obras da Nacional e não tarda estávamos sempre a descer entre a via rápida e um canal de rega. 


Badajoz à vista.


Passámos os edifícios decrépitos da antiga fronteira portuguesa do caia, atravessámos o rio Caia/Caya que marca formal e naturalmente a fronteira e passámos pelos igualmente decrépitos edifícios da antiga fonteira do caya espanhola. 


Edifícios fronteiriços Portugueses.


A fronteira natural.


E a administrativa.


Entrámos num polígono industrial onde está em construção o futuro terminal do TGV espanhol (!), o centro de feiras de Badajoz e a Lusiberia!


A chegada à Lusiberia.



Chegámos meia hora antes de abrir (já somando a hora espanhola), tal era a vontade. Apercebemo-nos de que não havia estacionamento para bicicletas. Perguntámos ao segurança onde podíamos deixá-las presas em segurança (passo a redundância). Tinha que as prender na rua, fora da entrada imponente do parque aquático que simula uma construção do tipo Parténon, pois ia encher-se de pessoas e as biclas iam importuná-las. Mas, nesse mesmo local onde as biclas iam chatear os clientes da Lusiberia estavam 3 ou 4 popós estacionados. Depois de fazer ver este ponto de vista ao segurança ele responde-me que esses “coches” são dos chefes. PRONTO, saltou-me a tampa. Apelidei de terceiro-mundista esta dualidade de critérios e armei a barraca. “Vim eu de Lisboa de bicicleta para a Lusiberia e agora não tenho nenhum sítio para estacionar?” – falei. Disseram-me que esperasse pelo “chefe”. Enquanto esperava entraram pelo menos 3 empregados de bicicleta! 
O “chefe” lá me arranjou um sítio fechado onde guardar a bicicleta. Porque não tinham já isto previsto? Agradeci e segui para um dia de lazer. A senhora da bilheteira ao perceber que não era espanhol perguntou-me de onde vinha. Respondi que vinha de Lx e entrei. Já dentro do complexo fui abordado por um senhor que falava Português. Era o RP e responsável pelo mercado Português. Ofereceu-me a entrada e perguntou-me se podia no fim tirar uma fotografia à entrada da Lusiberia no FB desta. Acedi mas pedi que registassem 2 reclamações/sugestões: A primeira era que arranjassem maneira de colocar um estacionamento em condições mesmo à porta do complexo, a segunda era que deixassem material no turismo de Elvas pois não me sabiam dizer nem horários nem preçário da Lusiberia mas tinham montes de informação da Isla Mágica! (Em Sevilha, 270kms a sul). 
Agradado com o acolhimento que a minha reclamação teve, fui curtir mais o Gugas. Passámos um dia em cheio entre as piscinas, os tubos e bóias. O corolário da nossa viagem! UHU! 


Ó pai, o calipo aqui em Espanha é 20 centimos mais caro!


Ao princípio achei estranho a festa que os Espanhóis faziam com a piscina de ondas, mas depois lembrei-me que esta malta está a quase 300kms da primeira onda natural! É normal, então, o entusiasmo.


Só para a "inveja". ;o)


Os meus pais e avós do Gugas fizeram-nos uma surpresa e foram visitar-nos. Apareceram na Lusiberia e ainda ofereceram uma viagem num barco a moedas ao Gustavo. 


Surpresa dos avós.


Estávamos mesmo de volta, e eles acompanharam-nos qual carro de apoio da Volte de France, Giro d’Italia, Vuelta a espana ou Volta a Portugal. Tanta volta!
A vinda para Elvas é tramada. Passámos por montes de BTTistas espanhóis que ao fim do dia dão uma voltinha até Portugal, fazem uns trilhos e depois voltam pela estrada pois é sempre a descer e há sempre um ventinho agradável a empurrar. Ora, se empurra quem volta a Espanha atrasa quem vai para Portugal e era esse o nosso sentido! Vá que ganhámos uma hora, pois perdemos bastante tempo a pedalar contra o vento. Talvez o ditado “De Espanha nem bom vento nem bom casamento” devia ser revisto. 
O Gugas estava derreado. Afinal um dia de piscina era mais fatigante que um dia a pedalar! 
Carreguei a sua bicla na minha xtra e ele veio à pendura onde chegou a adormecer. Chegado a Elvas acordou e continuou caminho a pedalar até ao camping. 
Tomámos banho, fomos jantar com as avós e acabámos a noite no centro de Elvas onde nos encontrámos com o resto da malta que vinha atrás de nós com o Paulo Guerra dos Santos e a Ana Galvão. 

Lx - Badajoz pela ecovia1 - dia 6

Dia 6 - Estremoz - Elvas                               Albúm do sexto dia


Total Kms dia - 57,2 kms
Total Kms acumulados - 312,1 kms

€€€ 

6,90€ - Mercearia Cano
2,2€   - Gelados
12€    - Intermarché Elvas 

21,10€


A noite foi ventosa o que não ajudou para que descansasse como deve ser. Já o Gugas ferra e até pode passar o TGV que não é nada com ele (abençoado). Levanto-me bem cedo como é costume num bivaque selvagem e constato o frio anormal. O termómetro da bicla marcava 12,4º , que era simultaneamente o mínimo registado na viagem. Xiça. Arrumei tudo, deixando roupa mais quente à mão e acordei o Gugas. Ao arrumar a tenda verifiquei que o local estava pejado de carraças. BOLAS! Concerteza que tinha estado por ali algum tipo de gado a pastar noutra altura. Fiz uma verificação corporal minuciosa a mim e ao Gugas e sacudi bem as roupas e a tenda.


Saída sorrateira do bivaque.


Fomos tomar o pequeno almoço à aldeia mais próxima onde locais meteram conversa connosco e deram um forcing ao Gugas. 


Pequeno almoço on the run! ;o)


Fizémos uns trilhos engraçados e o Gugas quis almoçar cedo. Ok. Fizémos os nossos cachorros em Santo Aleixo mas continuámos até Vila Fernando para beber um café, comer um gelado e dormir a sesta. 


Este monte pertence, concerteza, a um amante das biclas!

A dominar a bicla numa descida mais técnica!

Esta localidade fora construída à volta de um “centro educativo” com traço arquitectónico inconfundível do estado novo. Chegavam a este centro menores problemáticos ou órfãos e era-lhes dada uma educação digna e ensinavam-lhes ofícios (pelo menos quero eu acreditar que sim). Agora é um trambolho, um monte de casas abandonadas, decrépitas e até assustador. Dava um belo cenário para filmes de horror! 


De referir que no parque infantil perto de onde parámos estava um brinquedo a pedais! Eram 3 ou 4 biclas soldadas que circulavam em círculo. Muito fixe!


Daqui até Elvas é praticamente sempre a descer. O Gugas chegou a andar a 40Kms/h só com uma mão, a contrastar com os 10Km/h na descida à saída de casa! Claro que lhe tive que refrear o ímpeto pois a seguir ao excesso de confiança costuma vir o “abrólhos”. 


Ó Elvas, ó Elvas...


Ó Elvas, ó Elvas Badajoz à vista. Passámos o imponente aqueduto e fomos logo procurar o camping. Gerido por uma ordem religiosa e com apenas 1 estrela, o camping Piedade fica mesmo no meio da cidade. É agradável, ouvem-se as badaladas do sino da igreja lá perto mas tem electricidade gratuita. O que mais se pode querer? Aconselharam-nos a escolher um sítio resguardado para colocar a tenda por causa do vento que se tinha feito sentir na noite anterior. Assim foi dito e assim foi feito. Tomámos banho e arrumámos tudo para poder ir visitar a cidade. Demos a volta à cidade em pouco tempo e fomos às compras. 


Ruelas típicas.

Cozinhei com vista para a repetição do Portugal-Espanha do Europeu. Isto porque o Gugas fez amizade com um míudo espanhol ali acampado. Empataram 5 a 5, o que veio a confirmar o resultado do Europeu. Melhor que o Polvo. 


A comemorar um golo à Pauleta!

Preparei o almoço/lanche do dia seguinte pois tinha prometido ao Gugas passar o dia na Lusiberia quando chegássemos a Badajoz. 
Xixi, cama.


Cansado, o Gugas confidenciou-me que estava contente por ficarmos mais que uma noite no mesmo sítio, depois de tantas noites a mudar de poiso. 



Lx - Badajoz pela Ecovia1 - dia 5


Dia 5 - Avis - Estremoz                                Albúm do quinto dia

Total Kms dia - 56 kms
Total Kms acumulados - 254,81 kms

€€€ 

9,5€     - parque campismo 
11,90€ - almoço Sousel
8,2€     - Caracolada Estremoz
1€        - Mercearia Estremoz 

21,67€

O ritual nómada de levantar campo e seguir caminho foi mais uma vez repetido. É engraçado como nos lançamos à estrada para fugir da rotina diária e rapidamente nos agarramos a outras rotinas. E, por falar em rotinas, lá tirámos a foto da praxe à porta do camping. O parque de campismo, clube náutico e piscinas municipais de Avis são muito agradáveis. Combinámos vir de férias com as meninas da família para aqui e assim o fizemos umas semanas depois! 




Marca no GPS pois voltaremos aqui de férias!

Passámos de fugida por Avis e fomos em direção ao Ervedal. Aqui comprámos fruta e legumes para acompanhar o almoço. O trilho propunha uma visita à ponte do Ervedal que é uma réplica da ponte 25 de Abril, mas o Gugas não viu com bons olhos descer e subir só para ver a ponte e ficou a promessa de irmos lá noutra altura. Apanhámos os trilhos em direção a Sousel. Aqui vímos uns cavalos muito bonitos e um deles atrevido. Ficámos a admirá-los e o Gustavo lembrou-se de lhe dar uma das cenouras que tinha comprado. Os restantes cavalos ainda se aproximaram, mas eram tão medricas ou tímidos que o cavalo com mais lata acabou por comer toda a nossa provisão de cenouras e maçãs! 




Quem não chora não mama...




Em Sousel acabámos por comer uma bifana e acabámos a dormir numa sombra do jardim do centro cultural e biblioteca da vila. Aproveitámos por dar um saltinho à net, eu para enviar uma mensagem ao pessoal que nos acompanhava pelo blog e facebook e o Gugas por se viciar no friv. 


A repôr energia.


Quando estava mais fresquinho continuámos o trilho pelas serra a norte de Estremoz, que creio ser a Serra da Ossa. Zona conhecida pelo seu mármore, a rivalizar com Carrara, os trilhos eram de terra escura, quase avermelhada, fazendo lembrar África. 


Africa minha...


Cada vez mais avermelhado...

A estrada nacional contorcia-se no mapa, sinal que passava por zonas declivosas, mas o trilho do Paulo nem por isso. E realmente fomos sempre subindo devagar, como se circulássemos pelas curvas de nível, por entre pequenas aldeias e montes abandonados. Na parte final subimos até perto de umas antenas por uma estrada muito bonita ladeada de muros altos e casas bonitas. Esta zona tinha algo, uma aura, um magnetismo que me atraiu. 


Paisagem bonita.




Depois das antenas foi sempre a descer até Estremoz, onde apanhámos uma ciclovia perto da estação antiga, agora abandonada e recuperada. A “sangria“ que a nossa ferrovia tem sofrido nestes anos entristece-me. Para além de ser de uma falta de visão brutal em termos estratégicos, sustentabilidade, relocalização, resiliência de vilas e aldeias do interior, etc., estraga-me a já de si frágil mobilidade de longo curso em viagens de bicla! O comboio ainda consegue levar a minha bicla e material sem grandes stresses de capacidade de carga. (já outros stresses nem por isso).  Já estava no fim da etapa proposta pelo Paulo. Em Estremoz não há camping pelo que tentei pedir guarida aos Bombeiros locais. Chego lá e estão uns quantos soldados da paz a jogar matrecos, sinal de que não há fogos. 




Torneio aguerrido.


O comandante estava numa reunião mas aparece o “segundo” que me diz que não nos pode acolher mas indica-nos um parque de campismo recente, que não aparece nos guias a apenas 10kms dali e a descer. Quando me dizem distâncias desconfio e somo sempre o IVA. Acontece que mesmo que fossem 10kms e sempre a descer, o camping ficava na direção de Évoramonte, logo para trás. No dia seguinte teria que subir a mesma distância para voltar ao trilho. Agradeci e fomos comer uns caracóis ao centro de Estremoz. Os caracóis eram daqueles entre o caracol e a caracoleta. Os meus preferidos e estavam deliciosos. 


Os meus preferidos...






Estremoz é uma cidade com vida, dá gosto de ver e sentir. Envio um SMS a dizer q ia ficar a acampar algures perto de Estremoz ao grupo de BTT do Seixal que iria partir naquele dia para fazer o mesmo percurso mas em velocidade de cruzeiro. O meu colega de trabalho, Francisco Morais responde-me do outro lado da linha que pediram aos bombeiros de Estremoz estadia e que lhes tinha sido atribuída. Que voltasse lá e falasse nessa possibilidade. Não é mesmo a minha onda, a de insistir e a de aproveitar estas “boleias”, mas fui contra a minha corrente e voltei aos Bombeiros. Desta vez o campeonato de matrecos estava mais aguerrido e o Gugas demorou pouco tempo a meter-se a jogar. Enquanto eu esperava a nova resposta do “segundo” também joguei um bocadinho. Pediram-me para ligar ao responsável da “reserva” para que ligasse ao comandante e *protocolo*, *procedimento*, *patati*, *patata*. Não. Não é mesmo a minha onda. Ando a viajar em autonomia para…ser autónomo. Agradecemos a disponibilidade e a jogatana e saímos. Afinal os bombeiros não têm a responsabilidade de nos dar guarida, e nós estamos completamente capazes de seguir em frente. Seguímos em direção a Elvas. A tarde estava quente com o sol pelas costas e um tom rosado no horizonte. O silêncio, a cor e o cheiro dos campos compunha um quadro fenomenal. Pedalava até ao fim do mundo nesta aguarela! 




Nem apetecia parar.


 Afastados o suficiente de Estremoz e da próxima aldeia viramos agulha a 90º para um terreno não vedado e encontrámos o spot onde passar a noite. Enviei SMS com as coordenadas e enfiámo-nos na tenda.


Fim de dia perfeito!


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Lx - Badajoz pela ecovia 1 - dia 4


Dia 4 - Mora - Avis                                Albúm do quarto dia

Total Kms dia - 33,62 kms
Total Kms acumulados - 198,81 kms

€€€ 

6,17€ - parque campismo 
4€      - mercearia Cabeção
2€      - piscina Avis
9,5€   - jantar Avis 

21,67€

O dia de hoje reservava-nos, sem o sabermos, os melhores 3 kms da viagem! Mas já lá vai.
Primeiro fomos acordados por um gato atrevido do parque, que nos acompanhou enquanto arrumávamos as tralhas e comíamos o pequeno-almoço. Fomos pagar a nossa estadia, a tal tarifa internacional que se revelou simpática: 6,17€ no total (tenda e 2 pessoas). Tirámos a foto da praxe à porta do parque e seguimos em direcção ao fim do areal. 

foto da praxe à porta do camping


Aqui começa um trilho circular de 5 kms que permite ficarmos a conhecer as galerias ripícolas do açude do Gameiro. O primeiro kilometro e meio é feito num passadiço de madeira elevado que circula pela margem do açude com placas informativas sobre a fauna e a flora. KILOMETRO E MEIO disto (se souberem com rodar um vídeo digam-me please):




Nem queríamos acreditar no que lá vinha!

Brutal, ou não?


Quando o passadiço acaba, o trilho transforma-se num single track interessante que acaba de forma abrupta passados outro kilómetro e meio. E agora? Agora, tens de entrar numa casa abandonada do lado esquerdom atravessá-la e sair do outro lado!! As paredes internas foram destruídas de forma a que pudéssemos passar (mesmo à pele). 

Uma chicane de calhaus no single track


Ups! e agora?


TCHARAM!!!

Estes 3 kms foram votados por nós como os melhores durante a viagem. Aproveitámos para deixar um bilhete a desejar boa viagem a quem viesse atrás. 


Esta nota foi-nos devolvida em Elvas, 3 dias depois!!



O single track passa a um estradão e logo após há um entroncamento onde podemos optar por continuar o passeio que volta à praia fluvial ou então seguímos em frente até Cabeção. Foi o que fizémos o que nos valeu uma valente subida. "O que vale é que o Alentejo é plano!" - dizíamos nós sempre que apanhávamos uma subida valente. 

Ainda bem que o Alentejo é plano! ;o)


Lembrámo-nos que precisávamos de comprar fruta e vegetais frescos para o picnic que tínhamos programado na chegada à barragem do Maranhão. Fizémos um detour para o centro de Cabeção onde umas varredoras de rua extremamente simpáticas nos indicaram o caminho para um mini-mercado e aproveitaram para meter conversa com o Gugas. Comprado o pão, cenouras, tomates e fruta seguimos em frente. Fizémos um trilho para sair de Cabeção cheio de...portões. Sim, portões muito elaborados, alguns com muitos anos...mas sem muros, nem casas! Concerteza um caminho bastante concorrido noutra altura! ou isso, ou uma maneira sui generis de marcar os seus terrenos! 


Live to ride, ride to live


Regressámos a uma nacional e voltamos aos trilhos sempre a descer (uma descida bem grande) até cruzarmos com a ribeira da seda que tinha um grande caudal e passava por debaixo da ponte com grande velocidade. Ficámos com vontade de pôr os pés na água pois o calor já apertava, mas o acesso à ribeira era barrado e tínhamos a barragem do Maranhão à nossa espera. Comemos uns figos e seguímos. Passávamos por um autocarro escolar quando me lembrei que esta quarta etapa da ecovia 1 era a que maior desnível de cotas apresentava. O autocarro, que quase tombou para o nosso lado quando a rapaziada correu até às janelas para espreitar o puto carregado que pedalava pela sua terra, passou e a confirmação da minha memória apareceu escarrapachada à minha frente. 

A barragem do Maranhão aproveita um escarpado imponente para "entalar" as águas da ribeira da seda. Ora se há um escarpado imponente...há uma subida imponente! Lá soltei o típico: "ainda bem que o Alentejo é plano!", mas o Gustavo não estava com o mesmo sentido de humor.  



Foram 500 metros a empurrar a bicla e a puxar pelo Gugas. Durante essa distância o GPS foi mostrando a altitude a subir perfazendo um desnível de cotas de 50 metros! Eu ia sempre motivando o Gugas com promessas de água, muita água do outro lado do monte. E a água estava lá....mas longe. Não quis descer até à barragem propriamente dita e então lançámo-nos pela estrada a caminho de Avis (já lhe cheirava às piscinas). O calor apertava e a estrada ora subia ora descia. Lá chegámos a uma localidade onde parámos num lavatório público. Aproveitámos para descansar, molhar os pés (e as pernas) e almoçar. Quando dormitávamos chegou uma senhora para lavar a roupa e pedindo desculpa por nos incomodar abriu a torneira. Pensava eu que aquele barulho ia acabar passado 5 minutos, quando na realidade a torneira esteve quase meia hora a debitar água num caudal impressionante e ruidoso até encher um dos reservatórios...lá se foi o descanso. 

Vai uma italiana?

Continuámos, todos encharcados, passando por pisão e depois por uma estrada fenomenal com Avis ao fundo e bermas repletas por alcachofras em flor. Antes de chegar a Avis viramos em direcção à barragem e encontramos o clube náutico, o parque de campismo e... as piscinas municipais!

Avis àvis'ta!


Fizémos o check-in no parque e fomos logo para a piscina, que na realidade são 3, e gozámos quase duas horas de banho. COOL!


Gostámos tanto que voltámos para uma semana de férias com o resto da família!
   

Grande obra do Gugas: Um estendal para meias!

Bronze de...ciclista?

Matrecada pela noite fora