Moods of future joys
Alastair Humphrey pedalou pelo mundo de bicla e encantou-me
pela forma como o fez e escreveu!
O rapaz, já com algumas aventuras de bicla nas pernas e uma
atração inata pela aventura, teve a coragem para largar tudo e fazer uma volta
ao mundo. Mas a ideia não era essa. Ele saiu da sua Inglaterra natal em direção
ao médio oriente. A sua ideia era pedalar o Karakoram e ir até à India. Daí
tentava perceber o que queria e decidiria na altura. Só sabia que não queria
pedalar por Africa pois o calor e a incerteza de segurança assustavam-no.
Acontece que quando ia a sair da Europa e entrar na Asia via Turquia acontece o
11 de Setembro. Apanha-se numa encruzilhada brutal: com passaporte inglês não
se iria aventurar a caminho da Asia pelo caminho programado. Apanharia países
como o Iraque, Irão, Afeganistão ou Paquistão que estavam completamente fora de
hipótese. Seguir pela Rússia era uma aventura de proporções épicas para o qual
não estava preparado. Faltava a opção AFRICA que tinha posto de parte ainda
antes de partir. Avisou família e namorada que seguiria por Africa e assim foi.
Não se arrependeu e até lhe deu vontade de continuar e acabar por dar a volta
ao mundo. (desculpem o spoiler). Esta flexibilidade e espontaneidade, somadas a
uma escrita fluida pontuada com humor britânico e reflexões pertinentes fizeram-me
ficar agarrado a este volume e sonhar com a continuação. Felizmente existe uma
continuação:
From thunder to sunshine
Este último relata a viagem após a
decisão de seguir em frente já na cidade do Cabo. Conta como atravessou as
Americas até ao Alaska pela panamericana, atravessou o estreito de Bering e
aventurou-se na Sibéria pela Road of bones, voltou à costa para ir ao Japão,
voltar ao continente para a China e aí fazer o percurso pelos “estões” até
casa. UFF. Não estão cansados?
Alaistar era professor de Inglês (agora dedica-se a aventuras e a superar-se a si mesmo)
e contactava escolas locais para apresentar o seu projeto pelo caminho. Chegou
a trabalhar numa no Peru. No segundo volume descobrimos que um dos motivos que
o levou a realizar esta viagem foi a de descobrir se era capaz de escrever um
livro. Eu e muitos outros dizemos que sim. Muitas vezes sentia-me perto da ação
sentido as dificuldades, a felicidade, os cheiros e a cor, chegando a rir-me a
gargalhadas despregadas com o relato das suas peripécias. Ele conta como
pedalando no Salar de Yuni decidiu divertir-se e começou a pedalar apenas com
um gorro, as luvas e sapatos. De resto ia nu rindo dos comentários dos jipes
que passavam, até que um decide abordá-lo. Atrapalhado tentou vestir-se
depressa, mas não evitou o embaraço. Mas isto não era nada, acontece que
semanas mais tarde, no Peru encontrou-se com uma professora primária numa
escola onde ia dar uma palestra e descobre que professora era uma das turistas
desse jipe! Hilariante, aconselho vivamente.
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