terça-feira, 2 de setembro de 2008

Caminho do Tejo - dia 2

Estava mesmo derreado e dormi que nem um anjo! Acordei de manhã e o Tó já estava a "empacotar" a tralha. Tinha ficado mal disposto depois do jantar e ainda andou a percorrer a estrada de noite todo encarapuçado!! Era só ver carros a fugir ehehe.





Despachei-me e pusémo-nos a andar, agradecendo ao Sr. António que já se preparava para carregar mais melão! "Voltem sempre" - rematou. Sangue bom. Voltei atrás os kilómetros que tinha percorrido para voltar ao caminho. Entrámos logo num estradão. Estava um dia claro e sentíamos a paz daqueles caminhos: excelentes e muito bem marcados. O Tó começava a ambientar-se à coisa de seguir setas no meio do nada. Apanhámos várias aldeias pelo caminho e descortinávamos a serra dos Candeeiros lá ao fundo e a do Aire ainda mais longe. Mas pelo meio havia ainda uma colina com uns moinhos no topo, o que me fez desconfiar de que iríamos subir não tarda. E não é que estava correcto? eheh




Subidas íngremes onde os Vittoria Randonneur me traíram a meio, resvalando para o fundo do rego e onde o Tó estava, inteligentemente, decidido a não esticar a corda mais do que devia. Foi doseando o esforço, como que adivinhando o que viria a seguir. Tirada a foto da praxe de cima do marco geodésico ao lado de um dos moinhos fomos seguindo.


Num cruzamento apanhámos pela primeira vez uma alternativa ao caminho! Seguímos o marco que tinha as 2 setas, uma azul e outra amarela, que correspondia a muitos dos marcos que tinhamos vindo a seguir. A outra opção tinha um "A" gravado, o que nos fez pensar em alternativa. (Cheira-me que é uma opção mais "estradista"). Mais estradões muito apetecíveis com algumas descidas mais técnicas. Até encontrarmos outra vez o alcatrão. Chegámos perto de Amiais de Cima num cruzamento onde mais uma vez apanhámos 2 marcos. Evitámos o marco "A" e seguímos para a direita, o que vendo no mapa nos ia levar para trás, mas pensava eu para uma travessia do Alviela no meio do campo.


A estrada convidou a acelerar com uma descida acentuada e bom tapete, e por acaso deu-me curiosidade para "cuscar" uma praia fluvial assinalada. O Marco estava lá mas muito escondido! Era a desconfiada passagem do Alviela, e mais uma vez apanhava uma praia fluvial numa altura em que não estava com grande vontade de me banhar!



Seguímos por mais estradões até Monsanto. Nesta bela localidade parámos num café espectacular, com aspecto antigo mas preservado onde uma bonita rapariga nos serviu dois cafés e duas fatias de um bolo de noz. Quase perfeito ou quê? Enchêmos os cantis e preparámo-nos mentalmente para a travessia até Minde, do outro lado do maciço rochoso que se encontrava mesmo à nossa frente!

A partir daqui até ao Covão do feto é estrada, sobe e desce, curva contra curva, agradável. No Covão, o do Feto pois aqui há muita terra chamada covão, o caminho embica para o topo e é uma subida extremamente inclinada até à estrada principal que sobe a serra. Mais uma vez o Tó decide levar a ginga a pé, numa de dosear o esforço, já eu prefiro colocar a mudança "sobe paredes" e vou aos zig-zagues pedalando sem esforço.
Já na estrada principal decido parar e esperar pelo meu cunhado quando reparo que um marco mais em frente aponta para o mato. Mas não me parece ver nenhum caminho e decido explorar. Não é que o caminho aponta para um caminho de cabras, com autênticos degraus de pedra e bordejado de Azevinho ou Carrasco ou como aquela coisa que pica que se farta se chama? O que vale é que também estava pejado de oregãos que dão um cheirinho espectacular à coisa.



Lá seguímos a pé a acartar as nossas biclas, também carregadas. Devemos ter feito 1 Km em vez dos 4 Kms da estrada, isto numa hora de esforço que marcou o caminho. De tal maneira que lhe chamámos o "MINDE EPIC". Só para homens de barba rija e latas de salsicha nos alforges. AahahAh pois é, o Tó andava a carregar latas de salsicha, aquelas coisas levezinhas e práticas num dos alforges.


De salientar que este caminho está cheio de lixo. São tantas as garrafas de àgua vazias que envergonha o mais badalhoco dos trekkers, ciclistas, peregrinos ou lá o que pode passar por cá! Shame on you!

Descemos para Minde a aproveitar o vento na cara e quase nos espetávamos numa curva perigosa. Na descida há um caminho alternativo para quem vai a pé pelo meio dos arbustos, mas o caminho aconselhado para as biclas é seguindo o alcatrão. Por uns 300 metros decidimos seguir em frente pois estávamos já bem arranhados para contar a história. Na vila perguntámos a um Bombeiro onde se podia comer bem e barato ao qual ele respondeu que naquele dia só no covão do Coelho, que era a caminho de Fátima. Então decidimos seguir o caminho até essa terra. Aqui as subidas também eram jeitosas e ambos nos ressentíamos de alguns músculos não pelo ciclismo mas mais pelo "Minde Epic". O caminho mete-se por atalhos pelo meio do mato e estávamos a ver que nunca mais.

Parámos no largo da igreja e o Tó só desejava ver-se livre das salsichas. Cozinhámo-las ali num refogadito, com massa, milho e fruta. A vontade de largar lastro era tal que o Tó queria trocar umas latas de salsicha pelas bicas no café local ahhaha. Dormímos uma sesta bem merecida mas que as moscas e o sino da igreja não nos deixaram.

Seguímos caminho. Aqui apresentam-nos a alternativa de seguirmos por alcatrão (Fátima caminho bom) ou por trilhos na serra (Fátima caminho irregular). Dúvidas? Siga pelo mato. Andámos em trilhos onde alguém se lembrou de colocar brita, concerteza para que não levantasse pó. Uma mensagem para esse(s) senhor(es): "A brita não ajuda nada nem quem vai a pé nem quem vai de bicicleta!". O que vale é que passado uns 4 kms ela desaparece. A paisagem é típica daquela zona, cheia de pedras e muros de pedra. Aqui os marcos vão marcando os kms até ao santuário, o que por vezes é uma beca chato. A meio íamos perdendo o rasto deles pois alguém abriu um novo trilho a buldozer e obviamente não existe lá marco. Mas vimos um lá ao fundo que nos despertou a curiosidade, isso e uma coisa brilhante que se revelou ser uma porta de um carro! Ali, no meio do nada...


Aqui já pedalava quase só com a perna direita pois sentia uma dor aguda no joelho esquerdo. Os últimos Kilómetros são percorridos por entre aldeias muito pitorescas e passamos a A1 por um túnel e o caminho acaba mesmo num dos parques que rodeiam o santuário. Reparámos na quantidade de pessoal acampada nestes parques e ficámos contentes por não termos vindo no fim-de-semana de 15 de Agosto. Havia de estar lindo, nessa data.

Fomos até ao Santuário, onde o Tó passou a acreditar no poder divino após ter levado duas vezes com o pedal na canela seguidos de duas piadas. Pelo sim pelo não já só disse umas piadas fora daquele recinto! eheh


Fomos a uma farmácia comprar um creme anti-inflamatório e decidímos não seguir naquela noite para Tomar devido à dor que sentia. Jantámos no restaurante de um benfiquista ferrenho, onde o Tó emborcou uma Imperial à Benfica. De salientar de que este restaurante fica na parte mais "albufeira" de Fátima, onde tudo é caro e não abona a favor da boa fama daquela zona no centro do país. Num próximo passeio temos de ir comer a um restaurante sportinguista para lhe retribuir este jantar eheheh.


Fomos montar a tenda ao lado das demais nos parques e adormecemos junto das carradas de famílias de devotos que por cá acampavam e não podiam ou não queriam estoirar fortunas em dormida e/ou comida nos estabelecimentos locais. À noite ainda assistímos a uma procissão das velas e ala que se faz tarde.


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