Por falar em planos furados e em mudanças de planos, começo por dizer que havia um plano já antigo:
dar uma volta pela península de Setúbal de bicicleta em família.
Já tínhamos tirado férias para o fazer em 2014, mas a Cris partiu o pé um mês antes. Tivémos que alterar planos e adiar o passeio. Entretanto falámos com uns amigos que também queriam experimentar viajar e acampar em família e ficámos de marcar algo quando a Cris se sentisse bem do seu pé.
Este carnaval não tinhamos nada planeado e possivelmente iríamos até à terra descansar um pouco. O Gugas tinha um acampamento dos escuteiros o que nos cortava uns dias, mas era o plano.
De repente, uns dias antes lembrei-me que os nossos amigos agricultores da PROVE estavam sempre a dizer que havíamos de ir à sua quinta, para vermos de onde vêm os maravilhosos legumes dos cabazes. Fez-me um clic. Como o tempo se afigurava relativamente bom, perguntei se podíamos montar tenda na quinta durante as férias do Carnaval e até ajudávamos na colheita e no "encabazamento"!!
A resposta foi automática e o único problema é que o Telmo e a Sónia não podiam lá estar para nos receber, apenas a Suzy, o Nuno e o resto da troupe, mas iam estar super-atarefados com os cabazes que não nos podiam dar muita atenção!!
Ficou a promessa de lá voltarmos noutro dia e com o resto da vizinhança!
PROMETIDO!
Mas então só faltava propor ao resto da família!
Viajar em família é diferente, completamente diferente do que viajar sozinho ou apenas com o Gugas. Ainda por cima seria a primeira viagem e algo que não corra menos bem pode ser traumático e fazer com que futuras viagens fiquem comprometidas, mas estava confiante e resultado final veio comprovar a minha confiança.
A proposta foi bem aceite e logo nos pusémos a preparar o material.
Mentira ;)
a vida continuou, o Gugas estava em plena época de testes, tinha um acampamento pela frente e nós outros compromissos. Mas no fim-de-semana antes do carnaval, já com o Gugas a acampar, verificámos as bicicletas, colocámos alforges e sacos estanques em cima da cama e começámos a preparar o material.
O material em cima da cama
Apesar do bom tempo, não nos podemos esquecer que estamos ainda no Inverno. As previsões davam mínimas de 5º e máximas de 15º para o Meco. Ia estar nublado para segunda, solarengo mas muito ventoso para Terça e menos ventoso mas igualmente solarengo para Quarta.
Roupa, roupa e mais roupa. Depois os sacos-cama e matelás (colchonetes). Eu já tenho um saco-cama e um matelá relativamente pequenos, mas o resto da família tem ainda material muuuito volumoso. E para somar ao volume, umas mantas pois as meninas são friorentas!
A tenda é familiar, uma T3, que apesar de pesar "apenas" 3 Kgs é grande!
A somar a isto tudo temos a cozinha: gostamos de ir autónomos, por isso temos que contar com material para cozinhar e comer para 4 pessoas! Para além de tudo o que vem atrás disto: bacia, detergente e esfregão para lavar, bidon de 5l para guardar água, etc. etc.
A decisão óbvia foi levar o atrelado: um burley nomad.
O atrelado na sala já com o material volumoso
Assim o material mais volumoso (tenda, matelas, cozinha, bidon, cadeiras) foi no atrelado, enquanto que a roupa e comida foi comigo na xtracycle (para além da Mariana) e tanto o Gugas como a Cris levavam os 4 saco-camas, 2 em cada um nos seus alforges.
E assim fomos!
Disse lá em casa que queria apanhar o barco das 9h da manhã! Era bluff pois se apanhássemos o das 10h já era bem bom! ;)
Mesmo com as biclas e atrelado já totalmente carregados, a tarefa de acordar, vestir, comer toda a gente lá de casa nunca demora menos que 1 hora!
Mas eram 9h00 quando tirámos a foto da partida.
Uma corrente fora da cremalheira, uma mala a roçar o pneu, tudo resolvido e siga para Belém às 9h15m!!
9:00m e 0 Kms
O percurso da DocaPesca
Já no cais de embarque
A espera em Belém
Travessia do Tejo realizada sem stress...as únicas viaturas a bordo eram as nossas!
Do outro lado apanhámos a ciclovia da Costa. Com troços a servirem de estacionamento de barcos de pesca :( lá seguimos caminho. Numa pequena subida grito para que todos ganhem balanço e sem me lembrar que tinha o atrelado comigo fiz uma razia a um lancil. A roda do atrelado tocou no lancil e zás, o desgraçado virou-se! MAÇARICO!
O que vale é que o material é bom e a velocidade não era muita! Lá o endireitámos e seguimos caminho.
A pedalar com estilo pela Costa da Caparica
Preparei-os para a estrada das praias da Costa...uma estrada em mau estado, com algum trânsito (de semana e Inverno, era menos mal) e com uma subida digna de registo no fim.
Lá seguimos, sempre em filinha e sem stress. Na subida desmontámos e fomos a empurrar as burras, devagarinho. No topo apreciámos a vista!
Seguimos pelos caminhos florestais da mata dos medos. Foi excelente a reacção dos putos e da Cris em relação ao silêncio!! O barulho dos automóveis é uma poluição sorrateira...é um barulho chato, de fundo, tipo exaustor da cozinha que quando é desligado é um alívio tremendo.
Pedalar numa estrada só para nós, rodeados de mata, ao som dos passarinhos...foi espectacular!
Passámos pela Bateria da Raposa, onde o Gugas já tinha acampado com os escuteiros. Seguimos sempre para sul pela estrada até ao quartel da GNR da Fonte da Telha e daí até ao quartel da base da NATO da Apostiça.
É o fim da estrada. Vamos em hp (hors piste) até à entrada da Herdade da Apostiça.
Parámos para almoçar por volta das 12h30m: esticámos a esteira, montámos as cadeirinhas e "sacámos" das sandochas, fruta e sumos!
Enquanto isso os miúdos "sacavam" dos brinquedos e punham-se a brincar na areia. O nublado tinha sido substituído por um sol radioso!!
Almoçar e brincar nas areias da Apostiça
Enquanto isso os miúdos "sacavam" dos brinquedos e punham-se a brincar na areia. O nublado tinha sido substituído por um sol radioso!!
Se por um lado permitia tirar o corta-vento, por outro é preferível um certo fresquinho do que um calor abrasador em viagem.
O ritmo tinha sido agradável. O suficiente para não "molengarmos" e também não ficarem com as pernas doridas.
Agora íamos atravessar parte da Herdade da Apostiça: alguma areia em pinhal, com cerca de 6kms de extensão até à N377, perto da ponte sobre a ribeira da Apostiça.
Isto porque temos que contornar a Lagoa de Albufeira (verdadeiramente uma Laguna, pois a barra é aberta periodicamente pelo homem desde o séc. XV)
A entrada na Herdade é feita com muita areia, como era a descer todos os santos ajudaram. Já na Herdade há que passar uma pequena vedação para irmos pelos trilhos mais simpáticos e não percorridos pelos veículos TT. Abrimos passagem e voltámos a fechar.
Os trilhos eram espectaculares...areia rija, com muita caruma e alguma vegetação rasteira que não permitia que a bicicleta se enterrasse. Com altos e baixos, muita sombra e o tal do silêncio bom! Do nosso lado direito uma duna gigantesca que nos protegia da maresia.
Passado um pouco, o trilho acabava todo "trocidado" por rastos de máquinas que andaram por lá no abate de pinheiros, empilhados em montes também gigantescos. Sem árvores, o calor fazia-se sentir intercalado com algum vento já mais forte. Os trilhos tinham um ar desértico, e haviam mais subidas/descidas.
Pedalando no KKH..ehr Apostiça! ;)
Não tarda estávamos perto de edifícios de arrumos da guarda florestal da Herdade da Apostiça. Descansámos numa sombra onde os meninos andaram a apanhar flores para o caderno de campo.
A N377 ia ser um desafio. Se por um lado não tinha grande trânsito, para sul é ligeiramente a subir, com bastantes curvas....e as pernas da Cris já tinham 25Kms em cima. Colocada a possibilidade de virar para a Lagoa de Albufeira e fazer parte do percurso com menos trânsito mas em vias não alcotroadas, a opinião foi unânime: vamos em alcatrão já para Alfarim!
Ok! Fomos pela N377 e às 15h30m estávamos num café em Alfarim a lanchar à grande!
A lanchar em Alfarim...
onde quer que parássemos o estacionamento era nosso! ;)
Da praia da foz, o mapa indica uma subida até a um marco geodésico (com uma cache) em poucos metros....significa subida bastante declivosa!
Lá seguimos e pelo caminho encontrámos o Nuno da Prove que nos confirmou estarmos no caminho certo e que estaria por lá para nos receber e um amigo, o Rodolfo que vive aqui perto e que estava a passear de mota pela mata. Em conversa apercebemo-nos que conhece os nossos anfitriões!! O mundo é minúsculo.
A subida após a praia da foz confirmou-se ser declivosa e a Mariana saiu da bicicleta para empurrar o atrelado! Todos ajudam!
No marco geodésico aproveitámos para assinar a cache e trocar um brinquedo por outro.
A cachar perto da quintinha
Uns metros mais à frente estávamos na quintinha e a montar a tenda por baixo de um telheiro.
Passado menos de 1 hora estava a ficar escuro, levantava-se um vento forte de Noroeste, mas nós estávamos na tenda, com banho (de gato) tomado e prestes a jantar.
Menu: Couscous com atum para os pais e Noodles com atum para os meninos!
Serão na tenda, com joguinhos, conversetas e muita risada. Ás 20h00m já os meninos ressonavam!
Nós também não demorámos muito mais a cair no saco-cama!
Os 42Kms do 1º dia.
1 comentário:
Espectáculo!!!
Grande aventura ;-)
Venham daí o dia 2 e dia 3
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