terça-feira, 25 de março de 2014

s24o em Belas - dia 2

Depois disto acordo no dia seguinte e estico-me à gato. Preparamos flocos de aveia e ensinamos os miúdos a fazê-los: adoram e ficam de pança cheia. Eu também. Arrumo as coisas e sigo caminho: a ideia é ainda almoçar em casa!
Desço ao longo do aqueduto em trilhos cheios de raízes e autênticos degraus até chegar a um estradão enorme. 100% diversão. A partir daqui vamos ao longo da ribeira e das imensas hortas urbanas que aproveitam a sua água.


AHHH!

O pequeno-almoço dos campeões!

Nhami...


Daqui a água vai para Lisboa...

...a que seguia livre ia para o vale do Jamor.

e eu fui beber um café aos fofos!

Já em Belas dei um salto aos fofos. Como ia de pança cheia não comi um fofo, bebi só um café e dei um giro na vila antiga, cheia de charme mas esfaqueada em termos urbanísticos por uma construção desenfreada, sem lógica orgânica e sem gosto. 


"Concello de Bellas"??
 (quando é que isso foi?)

Vamos na estrada em direção a Queluz e os edifícios em ruína que estão ao longo da estrada contam-me estórias de muitas carruagens, estalagens, circulação de pessoas e bens da capital para as quintas da periferia. Do lado direito está um muro e no seu interior caminhos que saberiam muito melhor do que este alcatrão, mas penso serem privados. São jardins antigos, com construções em pedra que também contam estórias, pois um percurso era bem mais do que chegar de A a B, tinha que ser vivido, contado, apreciado e ornamentado. Um obelisco fenomenal com uma figura de um anjo caído em pedra está escondido pela vegetação e violentamente rodeado por 2 pilares da CREL que nos passa por cima e demasiado perto de terraços do 8º ou 9º andar de prédios que nascem ao lado dessas possíveis antigas estalagens. 



O canavial não deixa perceber, mas no meio de 2 pilares da CREL 
está um obelisco de pedra com uma imagem enorme de um anjo...


Adiante. Estou não tarda em Queluz e passo por baixo do aqueduto que leva as águas para o Palácio Nacional de Queluz e na rotunda entro no Parque Felício Loureiro, uma zona de lazer muito agradável ao longo da ribeira. Aqui espreito para os jardins do Palácio Nacional e vejo que a ribeira tem um papel importante. Há canais enormes e lindíssimos, bordejados de azulejos para serem apreciados de barco pela, na altura, corte real!

O parque Felício Loureiro

O rio, para além de trazer água potável, 
"mexia" muito com a vida das pessoas

Dentro do Palácio Nacional de Queluz, os canais e as pontes têm outra "finesse"!


O Palácio Nacional de Queluz não carece de apresentações e merece que se visite pelo menos uma vez na vida! Se não forem ver o palácio, pelo menos visitem os jardins que são lindíssimos e é ligeiramente mais barato visitá-los. (quem mora no concelho de Sintra não paga aos domingos de manhã). 

Sem pagar nada, podem visitar a parte envolvente ao palácio, nomeadamente o bairro do chinelo que é pitoresco e tem estórias engraçadas


Villa Carolina


Não falta o estacionamento estiloso para biclas!




Para seguir para sul tenho que atravessar a IC19. Faço-o por uma passagem superior com rampas para carrinhos de bébé e bicicletas. O som dos carros a passar é qualquer coisa de insuportável. Dali vou rapidamente para a matinha de Queluz

Como quem corta um pedaço de carne, a IC19 desfere um golpe e separa esta tapada dos jardins do palácio. (não liguem, eu fico assim quando venho da natureza e começo a chegar à civilização! Como diria Lord Byron: "I love not man the less but nature more"

Dei uma voltinha pelos 20 ha da Matinha que é um regalo para quem gosta de bosques densos. 

A passagem sobre a IC19

O barulho é insuportável!

A matinha é murada e tem horário de funcionamento.

Ficamos a saber que foi anexada aos terrenos régios em 1640 e que era um terreno com pouca vegetação, óptimo para as práticas tauromáquicas do rei!

Quem diria que isto não tinha quase vegetação há 400 anos atrás!

Banquinhos no meio de nenhures e ninhos man-made.

A loba no seu habitat

Contornei a matinha subindo ligeiramente e depois de passar pela grande clareira no interior, vim a descer sobre calhaus. Aqui a garrafa de água que vinha presa ao amortecedor caiu! Afinal tem um limite, mas aguentou-se bem (falta um elástico a prendê-la).

Aqui a ribeira de Belas recebe um afluente, a ribeira de Carenque que veio da mesma serra e passa a chamar-se JAMOR! Segui-o pela estrada de Valejas com vista para as hortas que existem nas suas bordas. A água aqui já não está tão limpa como a montante, mas bem melhor do que há alguns anos atrás. 

Em Carnaxide virei agulhas para casa, mas se decidisse seguir o Jamor passava pela igreja da Nª Srª da Rocha, local da famosa festa da Srª da Rocha, passava pelo túnel por baixo da A5, passaria no complexo desportivo do Jamor e finalizava na praia da Cruz Quebrada. 

Cheguei a casa a tempo de tomar banho e dar banho à loba e para almoçar com a família e ainda fazer um programinha à tarde. 

Já com outro caudal, a alimentar muita horta

Assim ao longe e sem os prédios de fundo parece que estamos na Suíça.

Valejas, e o seu castelo altaneiro

Já em casa, todo contente

Mas com a bicla toda suja

Coisa que se resolveu prontamente

Desde a Fonteireira até casa são cerca de 13Kms que visitando vários locais pelo caminho e apreciando a paisagem dá para "queimar" uma manhã nas calmas.


O que estão à espera para sair e "curtir" um s24o? Da próxima dou mais dicas para transporte de carga e campismo...

O percurso de domingo de manhã (a amarelo) no meio do restante:





Bikepacking S24O em Belas - Dia 1

Bom...farto de picar a malta com posts sobre bikepacking e s24o, decidi meter-me à aventura. Uns amigos escuteiros estariam a acampar por Belas e eu ia fazer uns trilhos para ir ter com eles e ajudá-los. Andei a estudar uns percursos e fui explorá-los. 

Mas... 

A pica para o bikepacking veio depois de ter visto ao vivo o Gary e a Patty na última viagem com o Gugas. Foi o materializar de todos os serões passados a ler histórias e vídeos de malta a viajar desta forma.

Como transformei a minha antiga BTT na longtail que tenho atualmente, comecei a procurar uma btt usada. Vendi algum material de mota que tinha e defini um orçamento (baixinho). Após meses de procura, de ter visto pérolas e muito machibombo quis o destino que a comprasse na "the bike shop", a loja onde o Gary e a Patty levaram as suas biclas a reparar antes de partirem para a América do Sul

As Btts lá de casa

Quando a comprei, reparei que tinha o eixo pedaleiro com folga. Disseram-me que o trocavam. Iam mandar vir o material e que quando chegasse me chamariam. Assim o fizeram e este fds já o poderia trocar. Isto tudo para dizer que este s24o foi ligeiramente over 24 hours por causa disto! Tinha que ir à Terrugem trocar o eixo antes de seguir até Belas.

No sábado de manhã ainda aproveitei para ir levar o Gugas ao treino de Basquete antes de encher uma mala de estafeta com saco-cama, alguma roupa e comida. (Ando atarefado com as bikebags e demais, mas ainda não tinha nada preparado). 

Uma bicla e uma mala...
(a garrafa no garfo é para testar o transporte de carga naquele sítio em trilhos)

****

É esta a "magia" do Sub-24 hours overnight (viagem com menos de 24h com dormida fora): é que tens tempo para os afazeres familiares, almoças em casa no sábado e no domingo estás de volta para almoçar com a família também!

****

Mas como tinha que ir trocar o eixo antes da hora de almoço, esquece o almoçar em casa. Eram prái 10h da matina quando parti em direção à linha de Sintra. A estação mais próxima de minha casa é capaz de ser a Amadora, a 6kms, por isso fui em direção à serra de Carnaxide. 


No topo da serra de Carnaxide já se via o Palácio da Pena...
e o céu não estava muito escuro.

A estação da Amadora tem uma pista de downhill
para lá chegar de bicla!

São 25 minutos de viagem por 1,80€...
aos sábados hà comboios de 30 em 30 minutos.
Cara de songo-mongo como quem diz: "o que é que estás à espera?"

Podia ter saído na Portela de Sintra, mas ir à vila de Sintra (nem que seja só perto da estação) é sempre refrescante! Daqui apanhei a N247 em direção à Ericeira. Foram 10kms de estrada (estreita) com vento pela frente, sempre a cruzar-me com muito bttista e estradista. É uma estrada concorrida. 

Sintra é um regalo para os olhos


Logo a seguir ao cruzamento para a "carne assada" fica a "The Bike shop". Tive que esperar que acabassem uns trabalhinhos, mas passado pouco tempo já tinha eixo pedaleiro novo e mudanças afinadas. 

SIGAPABINGO!!

Eram 12h30m e voltei para trás pela mesma estrada. É algo que não aprecio muito, mas não levei mapas nem GPS e não queria perder muito tempo a procurar caminhos por aqueles lados...fica para outra altura!

Paredes caiadas com riscas azuis...


Virei para Ral, e ali atravessei a N9 para fazer uma granda recta na N250-1 que era o caminho antigo que fazia quando ia para a Ericeira. No fim da recta a paisagem está completamente alterada pois foi construída a A16 e ali é um dos acessos. Feita a rotunda saio em direção à Base Aérea e sigo numa estradinha de alcatrão que desemboca num estradão de macadame. Ok...já estou a sair da "babilónia". 

Primeiros charcos a meio do caminho - cool - vou com atenção ao fundo e sempre a pedalar. A poça é maior do que aparentava e - zinga - tenho água até aos tornozelos. ESTÁ FRIA...mas sabe mesmo bem! A ver se seca pelo caminho.

Malandrinhas

Não paro e volto a apanhar alcatrão. Aqui sigo em direção ao Sabugo. Atravesso a linha de comboio do Oeste. Passei aqui tantas vezes quando ia para o trabalho da minha mãe que era perto da Malveira! 

O Sabugo é sempre a subir depois da linha do comboio. Mudanças baixas é o que não falta na bina (tenho que lhe arranjar um nome...isto é como os pescadores e os seus barcos) e com a mala de estafeta encostada ao rabo  e ao selim quase nem a sinto. (Mas não recomendo pesos às costas). 


A linha do Oeste no Sabugo

E não é que em plena subida sou ultrapassado por um senhor numa daquelas "scooters de mobilidade"? Ia na "bisga" e eu picado baixei duas e fui atrás dele. Para meu espanto era um rapaz novo e não um velhote e não é que o "magano" pára no café, uns bons metros à minha frente e sai da scooter na boa para se agarrar a uma mini que um amigo lhe deu! BATOTA!

Logo à frente chego a Vale de Lobos. O lobo é o meu totem de escuteiro desde miúdo: bicho social mas que aprecia longas jornadas de caça solitárias. É um sinal....vou sair de estrada. 

Entro na vila, fico a saber que as lobas foram campeãs de hoquéi em patins e vejo um corta fogo do meu lado direito...THAT'S IT! WOLFMOTHER começou a tocar na minha carola e um rush de adrenalina desatou a bombar desde os pés molhados até à ponta dos meus poucos cabelos...


Going up!

Looking down!

O corta-fogo estava cheio de regos, fruto das chuvas fortes dos meses passados. Foi desafiante, mas falta-me prender os pés aos pedais. Chegado ao topo, estava nos prédios do Belas Clube de campo. Umas valentes rochas impediam o acesso a jipes ou motas. Quem mora aqui deve gramar com muito ruído de motores de combustão puxados!!! Já a pensar em passar a magrela por cima dos calhaus lá encontrei uma alternativa e mesmo no meio de urtigas fiz-me ao caminho (em viagem sempre se pode apanhar umas para fazer uma sopinha!! ;o)



Aqui não passas.



AHA! Nada pára uma magrela



chiiii...solicita-se silêncio.

A partir daqui era sempre a descer, e bem. 



GOING DOWN!


Comecei a seguir umas setas cor-de-laranja fluorescente que pareciam ser de alguma prova ou passeio TT. Passei com a bicicleta por cima de uma corrente sob o olhar de um segurança com ar de poucos amigos e continuei a descer para um vale sempre a pensar: o que desce tem de subir. Bem dito, bem feito. Cheguei ao ponto mais baixo onde me cruzei com um ribeiro: é o rio Jamor, que aqui perto da sua nascente se denomina ribeira de Belas. 


A ribeira de Belas...que vai desaguar na Cruz-Quebrada!


Ora, quando começaram a lotear o Belas clube de campo fizeram um mega-aterro para fazer um acesso em alcatrão pelo lado nascente. 


Aterro lindo...


Era este mega-aterro que se deparava à minha frente. Fui espreitar o leito da ribeira e vi que o túnel criado para que esta circulasse por baixo da estrada era-me familiar e perfeitamente ciclável (apesar de ser em metal ondulado!). O túnel de Belas!
Fear not...here i GO!

Depois das fotos da praxe, segui em frente num "bone shaker" tremendo para finalizar no leito da ribeira que após o túnel é bem mais fundo! Lembram-se dos sapatos? Já estavam secos! ESTAVAM! ehehe


A luz ao fundo do túnel

Teste à suspensão...

A saída do outro lado (olhando para trás)

e para a frente...saí pelo lado direito.


Foi um almoço para a alma...tipo um Cozido à Portuguesa, servido com todos! 

É disto que o Lobo em mim se alimenta...e só por causa disso a Berg Torah 4.6 disc passa a chamar-se "LOBA"! 

Saquei-a em braços para a margem direita da ribeira e segui num trilho. Pensei que estava na margem errada, pois a Fonteireira (local de acampamento) era do outro lado e 10 metros depois estava a cruzar a ribeira e a apanhar um trilho escondido nas árvores, ou seja, sem luz e calor do sol para secar, i.e., com lama até ao tutano! Foram uns 300 metros insanos, sem parar de pedalar, para não ficar preso no barro. Muito bom. 

Nota mental: fazer um pára-lamas para a lama da roda da frente não saltar de tal forma que te impede de ver o que quer que seja. 

Depois da lama começam trilhos a subir, depois a descer e a aumentar de tamanho. Uma delícia. O tempo estava farrusco, o que é bom para não ser demasiado quente, mas agora começava a chuviscar. Pensei em parar e abrigar-me, mas sabia que estava muito perto do local de acampamento. Segui. Fiz umas quantas montanhas-russas, subir para curtir a descida, sempre a andar, a testar a loba (a garrafa de água presa na suspensão ainda lá estava) até que a vegetação começou a mudar. Pinheiros e eucaliptos deram lugar a fetos, carvalhos e zambujeiros antigos. A floresta autóctone no seu esplendor.  Estava na Fonteireira, a seguir a ribeira de Belas de novo. 



trilhos e trilhos


A aumentar de tamanho

Aqui já estava na Fonteireira

Mata de Carvalhos, Zambujeiros...

Muito musgo

A loba, enlameada mas feliz!

Trilhos rápidos

sempre ao longo da ribeira de Belas

Quantos bttistas felizes já deve ter testemunhado?

Os trilhos a estreitarem

Não tardou muito a ver as primeiras minas. A água é encaminhada desde a serra da Carregueira (nascente de várias ribeiras) até Lisboa desde o tempo dos Romanos! E no tempo da monarquia, o Jamor era extremamente importante, não fora a ribeira que alimentava o Palácio de Queluz mais a jusante. Aqui na Fonteireira estão várias minas e troços do aqueduto que transportava as "águas livres" abundantes nesta zona até Olissipo. 


"Águas livres"

rebeldes...

e logo à frente o local de acampamento

Na pedreira da Fonteireira

A loba a olhar para a cabra no topo da pedreira

As meias a secar estragaram a foto! :os

Não demorou muito a encontrar escuteiros. Um CIP do Monte da Lua e mais à frente exploradores no vale escuro e na pedreira. Foi aqui que dei um descanso à loba e juntei-me ao almoço frio dos dirigentes, 2 horas e 22 kms depois de sair da Carne Assada (7 fora de estrada). Não sem antes trocar de meias e pô-las a secar!

Dormi uma sesta e fui ajudar os dirigentes nas tarefas do acampamento. Jantámos umas espetadas grelhadas na fogueira e tivémos a contar mentiras até às 2 da manhã no calor das brasas.


O sol a descer no horizonte...


As espetadas nas brasas

E as mentiras só testemunhadas pelo fogo...

Xixi e Cama.

Percurso realizado: 

Azul -> estrada (sensivelmente 31kms)
Vermelho -> CP 
Verde -> TT (uns 7kms)




Não percam o relato do segundo dia, AQUI.