...e falo de cicloturismo em autonomia, não o cicloturismo muito praticado em Portugal em que consiste em passeios de bicicleta normalmente sem dormida.
Com o nascimento dos filhos é usual que o casal refreie as suas atividades. Afinal é um ser pequenino, com muitas solicitações e fragilidades. E o cicloturismo é uma atividade (não radical) mas que requer planeamento e alguma ginástica mental para enfrentar algumas dificuldades, quanto mais com pequenos.
Comigo aconteceu o contrário e passo a explicar: dediquei-me às viagens de bicicleta quando era mais novo. Era um meio acessível, rápido e barato de viajar.
Natal de 1994 no Alentejo
Quando comecei a trabalhar veio a mota e as viagens de mota. Com o nascimento do meu primeiro filho comecei a questionar tudo. O Gustavo ajudou-me a chegar à conclusão que por muito que queira não vou poder estar sempre perto para o proteger. Posso sim é ensinar-lhe as melhores ferramentas e expô-lo de uma forma mais controlada a várias situações e esperar com toda a minha força que o rapaz interiorize e ganhe competências para se safar. Isso e ajudar a transformar o mundo em algo melhor para que ele e outros possam usufruir do melhor.
Há 3 anos, tinha o Gugas 4, avançámos numa viagem de Setúbal até Olhão pela costa vicentina, dando um saltinho a ayamonte. Ele ia numa cadeira e eu carregava toda a parafernália para circularmos em autonomia.
Julho de 2009 no Ferry para Tróia
Como correu a aventura? Foi excelente. Obviamente que a presença do Gugas veio alterar por completo a viagem. Para começar tinha sempre por companhia um ser extremamente curioso. Respondi imensas questões, cada uma mais engraçada que a outra e expliquei como funcionava o mundo (sem sequer saber como). Depois havia toda uma preocupação que antes não existia. Ter sede, fome ou cansaço é algo que consigo gerir bem durante as viagens, mas o mesmo já não acontece com uma criança de 4 anos. A caminho de Melides, por exemplo o Gugas pergunta-me quanto tempo demora para chegar ao Algarve. Ele afinal só queria saber quanto tempo tinha que aguentar até fazer xixi!!!!!!!
Este ano vamos repetir a proeza de uma viagem em autonomia. Mas desta vez o Gugas, já com 7 anos e alguma experiência a pedalar para a escola e alguns passeios de fim-de-semana vai na sua própria bicicleta (com alforges e bolsa de guiador!). A ideia é seguir a ecovia1 do Paulo Guerra dos Santos até Badajoz. Este projeto tem o "rodado de aprovação do roadbook" (inventei agora)! É um projeto que faltava em Portugal (confesso que já tinha pensado em algo parecido, mas o Paulo avançou e bem!) e para o qual penso contribuir, nomeadamente em trilhos de viagem ou passeio em família!
Janeiro 2012 quase a chegar à escola
O estado do espírito do Gugas é indescritível. Quando falamos da viagem ou tratamos de organizar algo relacionado com ela fica contentíssimo e já diz que vão ser os melhores dias da vida dele ;o) (noutro dia queria pesquisar sobre o Lusiberia que é o prémio à chegada a Badajoz).
Toda a gente a quem falamos da viagem acha que é incrível e não conseguem esconder o descrédito que dão à resistência do Gugas. Eu creio que fisicamente ele consegue. A ideia é fazer entre 30 e 50 kms diários (espalhados por várias horas de pedalada calma, em jeito de passeio). A ver se psicologicamente segue o mesmo caminho. Vão seguindo este blog para ver o resultado final. ;o)
Fazer cicloturismo com crianças é possível? Sim, sem dúvida. Faz-se mais devagar, com menos kilómetros, mas com mais atenção ao que nos rodeia e seguindo a curiosidade de quem tem tudo por descobrir...eles. É tudo uma questão de sensibilidade e bom senso.
Vejam o vídeo deste casal, (cycletouring in baby steps) que viaja com o filho de 6 semanas. Espectacular!!